Excelente matéria postado no blog Portal Maritmo.
Vez
por outra vemos situações a bordo que, de tão corriqueiras, tendem a
tornarem-se rotina podendo, inclusive, virar o padrão. Uma delas é o
engraxamento que, infelizmente, costuma ser feito de maneira incorreta,
gerando enormes prejuízos para as empresas.
Do
desalinhamento de equipamentos rotativos, passando por danos a
rolamentos e motores elétricos e até mesmo danosa geradores de deixo, a
graxa, se não usada corretamente, vira uma faca de dois gumes.
O que
mais vemos é pessoal que, literalmente, “sai metendo graxa” pra tudo
que é lado, sem critério algum. Se você passar na hora, até você é
engraxado. Também tem o pessoal que diz que “boa mesmo é a graxa azul”,
ignorando a aplicabilidade da mesma, como se ela fosse um elixir da
lubrificação a bordo.
Mete graxa
azul….
Quando
vamos reengraxar rolamentos, colocar mais graxa não é sempre a melhor
opção e pode, ainda por cima, causar danos de custos elevadíssimos. Ao
invés disso, o engraxamento deve ser feito em intervalos determinados e
de acordo com cálculos usados para que se tenha a exata noção da
quantidade de graxa a ser aplicada. O fator determinante para a
quantidade necessária é baseado nas dimensões do rolamento ou de sua
sede, no caso dos que ficam localizados em partes fechadas de
equipamentos.
Propulsor
aéreo com excesso de graxa
O
excesso de graxa pode levar a um sobreaquecimento, pode causar danos nas
vedações (principalmentenos retentores) e, no caso dos motores
elétricos, perda de energia e falhas principalmente as ligadas à
sobrecarga no motor, podendo, até mesmo, em casos extremos, queimar o
motor.
As
melhores maneiras de evitarmos este tipo de problema é seguir um
programa de manutenção onde usamos fórmulas para detrminar a quantidade
de graxa necessária e os intervalos entre as aplicações, a fim de termos
uma lubrificação de qualidade, que é um dos primeiros passos para se
ter uma planta funcionando dentro de padrões operacionais elevados, sem
esquecermos de usar instrumentos que nos dêem alguma informação sobre o
sistema lubrificado, para termos algum controle, como termômetros,
ferramentas de ultra som, termógrafos etc.
Um
volume excessivo de graxa no rolamento fará com que os elementos
rotativos do mesmo causem uma certa agitação nesta graxa, removendo-a do
local correto e resultando numa perda de energia considerável e num
aumento de temperatura. Este é o primeiro passo para que tenhamos uma
rápida oxidação (ou degradação química, como alguns gostam de dizer) da
graxa, fazendo com que ela perca suas propriedades químicas de proteção,
resfriamento, lubrificação e vedação, dentre outras. Além disso, a
graxa começa “vazar”, pois o óleo começa a separar-se do espessante,
escoando entre as descontinuidades da superfície / compartimento
lubrificado, ou então através do próprio espessante mesmo.
Olha a lenha que faz
O
calor gerado devido a perda de óleo, e conseqüente redução na capacidade
de resfriamento da graxa, acaba por aquecer o espessante da graxa,
tornando-o duro, quebradiço e muita vezes até mesmo impedindo que uma
“nova” graxa atinja todo o interior do rolamento, para se ter uma
correta lurificação. Isso pode ocasionar um desgaste excessivo dos
elementos rolantes (esferas, rolos cônicos, roletes etc), levando a uma
falha pré matura do equipamento ou componente.
O
dano às vedações e retentores é um outro efeito negativo advindo do
excesso de graxa. Pistolas de graxa podem produzir até 15000 psi de
pressão e, quando engraxamos um rolamento, os retentores podem
romper-se, permitindo que elementos contaminantes como água, sais,
sujeiras e impurezas de diversas naturezas entrem em sua carcaça,
fazendo “aquela lenha” que muitos aqui já conhecem.
É
super importante mantermos a atenção no fato de que um retentor
apresenta falha geralmente na casa dos 500 psi (aproximadamente 34.48
bar). Esta pressão excessiva pode também danificar rolamentos blindados
(ou fechados), tanto os simples como os duplos, fazendo com que as
blindagens entrem em contato com o suprimento de graxa, entrando em
colapso com os anéis e iniciando um desgaste excessivo, que pode
resultar numa falha ou até mesmo num dano. Quando é gerada muita pressão
por uma pistola de graxa devido ao excesso de engraxamento, fica muito
fácil para a graxa (que já está dura e quebradiça por causa do
sobreaquecimento) quebrar-se em pedaços e adentrar a superfície de
rolagem interna ao rolamento.
Pistola de graxa com manômetro
Excesso
de graxa em motores elétricos tem o mesmo efeito que o excesso nos
rolamentos, com o agravante da graxa poder atingir o enrolamento
elétrico do motor.
Quando
um motor elétrico está cheio de graxa, ele sobreaquece por causa da
agitação da graxa em sua parte interior. Isso resulta em uma perda de
energia, assim como na perda de óleo lubrificante pela graxa e
endurecimento de seu espessante. Novamente, a alta pressão exercida pela
pistola de graxa pode resultar na entrada de graxa entre o eixo do
motor e o anel interno do rolamento, além de pressurizar a parte interna
do motor elétrico. O resultado disso, ao longo do tempo, é o
revestimento de todo o enrolamento do motor elétrico pelo lubrificante
da graxa, causando uma baixa de isolamento elétrico, além do dano já
causado ao rolamento.
Motor elétrico danificado por
excesso de graxa – “Mete graxa, mete…”
Ter
um programa de manutenção bem implementado é o grande segredo para
resolver os problemas causados pelo excesso de graxa. Cada ponto de
lubrificação, quer seja para a sede de um rolamento ou para um motor
elétrico, deve ser registrado no sistema como um componente ativo, sendo
aconselhável que se mantenha um controle de registros de manutenções
planejadas e inspeções dos mesmos.
Na
fase inicial de implementação dessa prática, isso deve tomar parte do
tempo disponível e deve dar um certo trabalho também, mas os resultados
finais sentirão o maior impacto, pela redução drástica de paradas não
planejadas e manutenções corretivas em equipamentos e componentes.
Uma
vez que você já determinou a rotina de lubrificação de seus
equipamentos, é chgada a hora de determinar os intervalos entre as
lubrificações e as quatidades de graxa necessárias para cada ponto a ser
lubrificado. Segundo a SKF, o volume de graxa pode ser calculado pela
seguinte fórmula:
G =
0.114 x D x B
Onde:
G =
Quantidade de graxa em onças (1kG =35,274 oz)
D =
Diâmetro do furo em polegadas
B =
Largura do rolamento em polegadas
O
próximo passo é calibrar todas as pistolas de graxa e treinar o pessoal
envolvido na lubrificação de acordo com os procedimentos corretos de uso
da graxa. Calibrar uma pistola de graxa é muito simples. Tudo o que
você precisa é a pistola e uma balança de precisão. A determinação do
peso por “shot” de graxa vai permitir calcular o númeo de shots
equivalente a uma onça (1 oz) de graxa.
Note que o enrolamento do motor
elétrico foi atingido pela graxa
Assim,
pode-se estabelecer o volume correto necessário para que sejamos
precisos nas aplicações de graxa em cada uso.
Após
determinar-se o volume correto, deve-se determinar agora a freqüência de
engraxamento.
Existem
diversos métodos para estimar-se esta freqüência, incluindo diversas
calculadoras e tabelas. Os mais importantes fatores que devem ser
levados em conta neste momento são a carga aplicada, tempo de operação,
tipo de rolamento, velocidade, temperatura e local de aplicação.
Ferramentas
de análise também auxiliam na determinação da freqüência.
A
instrumentação ultrasônica, por exemplo, é uma das melhores maneiras
para se otimizar a determinação desta freqüência e pode ajudar bastante
na elaboração do programa de manutenção.
Estabelecer
os procedimentos e inspeções apropriadas durante a relubrificação é
outra parte importante de um programa de manutenção. Algus passos
básicos incluem:
- Limpar as áreas ao redor ods
drenos de graxa e dos pinos graxeiros.
- Assegurar-se de que a válvula de
alívio de graxamove-se livremente ou que o bujão do dreno de graxa foi
removido.
- Verificar se a passagem da
válvula de alívio não está entupida por pedaços de graxa endurecida, que
podem bloquear a saída da graxa antiga.
- Engraxar a sede do rolamento com o
volume correto de graxa, previamente calculado, adicionando-a aos
poucos, a fim de minimizar o excesso de pressão.
- Engraxar o equipamento com o
motor funcionando e deixe que funcione por um tempo após o engraxamento,
a fim de que se drene o excesso de graxa. Isso deve ser feito antes de
se instalar o bujão de dreno ou a válvula de alívio de volta no
equipamento.
- Limpar a área adjacente para
retirar qualquer sujeira ou resíduo de graxa que estejam presentes.
Dicas
para controle de excesso de graxa em equipamentos:
- Parar imediatamente o engraxmento
caso sinta alguma contrapressão anormal no sistema.
- Sempre assegurar-se de que os
drenos de graxa estão livres de qualquer impureza que possam bloquear a
passagem de graxa.
- Procurar usar pistolas de graxa
com manômetros, conexões de corte imediato de graxa ou bujões com dreno
de alívio de graxa.
- Bombear a graxa bem devagar,
mantendo um intervalo de alguns segundos entre cada shot. Bombeando a
graxa rapidamente, pode-se danificar retentores e dificultar a
distribuição uniforme da graxa pelo rolamento.
Assim,
é de extrema importância o envolvimento de toda a equipe neste sentido,
pois as melhorias são visíveis como tempo e os custos vão lá em baixo.
Fiquem
à vontade para comentar, sugerir, corrigir…
Vamos
dividir nossas experiências e divulgar as informações.