A perspectiva de o Brasil se tornar um
grande produtor de petróleo e os investimentos em andamento de empresas
instaladas no país, não apenas a Petrobras, estão atraindo mais empresas
do grupo dinamarquês Maersk. Depois de a empresa de serviços de apoio
marítimo anunciar que quer aumentar sua frota de navios no país, a
Maersk Drilling, braço de serviços de perfuração, busca oportunidades
para afretar sondas para empresas instaladas aqui.
O principal executivo da Maersk Drilling, Claus Hemmingsen, informa
que a empresa já está conversando com companhias de petróleo e
estaleiros, cujos nomes não revela, mas ainda vê restrições a
investimentos no país devido às regras de conteúdo local. No seu
entendimento, o cumprimento dos compromissos de conteúdo local das
empresas obriga que elas aluguem apenas sondas construídas no país
usando equipamentos e pessoal brasileiros, e isso aumentaria custos.
"O conteúdo local tem impacto no modo de se fazer negócios aqui. E
isso complica a situação porque quando se tem que pensar em alocar
recursos no Brasil ou em outros países as regras de conteúdo local podem
ser restritivas e acabam aumentando os custos", afirma Hemmingsen.
O executivo chama a atenção ainda para outro desafio de investir no
Brasil que é lidar com a falta de mão de obra qualificada, e ele vê como
um desafio difícil a construção de sondas de perfuração complexas. "A
tecnologia utilizada nessas embarcações é detida por empresas
estrangeiras, principalmente da Noruega e dos Estados Unidos".
Ele cita como exemplo um acordo recentemente firmado entre o governo
brasileiro e o dinamarquês para treinar cadetes da Marinha em navios de
bandeira dinamarquesa, já que não existem navios brasileiros suficientes
para esse treinamento.
Desde o acidente do campo de Macondo, no Golfo do México em 2010, as
empresas de petróleo e as prestadoras de serviços, como é o caso da
dinamarquesa, estão mudando procedimentos e padrões mais rígidos para se
adequar às novas regras de segurança e também evitar indenizações
bilionárias. A Maersk tem um centro de treinamentos em Svendborg, na
Dinamarca, desde 1978 e depois da explosão da plataforma de sua
concorrente Transocean em Macondo foram feitos mais investimentos para
treinar equipes de perfuração, com simuladores. A ênfase é no controle
de poços, emergências e gestão de crises.
A Maersk Drilling tem uma frota de 26 sondas de perfuração que estão
operando sob contrato no Mar do Norte, África e Golfo do México, regiões
que hoje competem com o Brasil pelos investimentos da indústria de
petróleo. Existem ainda outras sete sondas em construção, quatro no
estaleiro Samsung (Coréia) e três no Keppel (Cingapura), que vão custar
US$ 4,5 bilhões. Mesmo ainda nos estaleiros, cinco embarcações já têm
contrato de aluguel.
Mesmo apontando o que considera regras restritivas para
investimentos, Claus Hemmingsen acha que é possível investir e até
construir sondas no Brasil, desde que a empresa tenha contratos de longo
prazo.
"O Brasil pode fazer parte da nossa próxima onda de investimentos.
Mas queremos saber antes se os estaleiros são capazes de construir essas
embarcações, já que nossas sondas têm um padrão de altíssima qualidade.
Essa é uma regra nossa para o mundo inteiro e nos sentiremos
confortáveis [para encomendar aqui] quando virmos que o estaleiro já fez
esse trabalho antes", afirma.
Onze empresas do grupo Maersk já operam no Brasil em setores como
navegação de longo curso (Maersk Line, Mercosul Line), apoio a
plataformas (Maersk Supply Services), exploração e produção (Maersk
Oil), terminais marítimos, tancagem e trading, entre outros negócios.
No ano passado a Statoil e sua parceira Sinochem pagaram US$ 1 bilhão
à Maersk pela FPSO Peregrino, uma das plataformas de produção instalada
pela norueguesa na Bacia de Campos. A venda faz parte da decisão do
grupo de se desfazer de todas as suas cinco plataformas de produção. O
grupo já investiu cerca de US$ 2 bilhões no Brasil, onde emprega 2,3 mil
funcionários dos 108 mil empregados globalmente.
Fonte: Valor Econômico